segunda

foi só ouvir um pouco de chico e seus comparsas e a minha noite se encheu de notas.

meio perdida, saí atrás de um papel pautado pra tentar aprisionar a melodia que corria tanto; quase fugiu. ela parecia escorrer pelos meus dedos e a mente, com pressa, apanhava-a antes de alcançar o esquecimento.

já era tarde e o piano não podia soar. os vizinhos não entenderiam. por sorte, alguma voz dentro de mim cantava bonito, cantava claro. desisti das teclas e segui o ouvido. ele é fiel, não engana...meu querido, tão querido!

foi por ele que o trecho surgiu inteiro, como bloco, como ato feito.

e uma atmosfera tão própria me envolveu, me acobertou.

as paredes do 33 abrigam uns momentos desses com tanto primor que parece que sempre pertenceram à músicos. e veja, só são "minhas" há tão poucos meses...

o caderno pautado dos tempos de faculdade não tinha folha vaga. umas escritas de verdade e outras de mentira (a escrita do próprio nome repetidas vezes quase me custou caro).

encontrei numa porção pequena, esquecida e mal aproveitada o solo que germinou tudo que soava preso dentro de mim, tentando escapar pelos ouvidos...

foi assim: a dias da primavera, inteira, singela e absolutamente brasileira.

nasceu minha segunda música.