23.11.09

relatos silentes


os dias atuais tem sido comedidos. vivo entre silêncios e palavras ponderadas. os veríssimos, as brontë e os apóstolos tem sido companhia constante.
ando observando muitos as pessoas, as gentes. coisa curiosa.
voltava ontem de são paulo (novamente, e dessa vez sem apertos no metrô, sem calor sufocante e sem atrasos...). o trajeto até o terminal tietê foi tranquilo. Miraculosamente, pouco ou nenhum trânsito. é o que os paulistanos chamam de "bênção dos fins de feriado", resultando no contra fluxo no trânsito da cidade. Pobre de quem veio a sp. sorte de quem saiu, como eu.
cheguei com certa antecedência, comprei minha passagem (da viação bonna vita), e como me sobraria algum tempo, entrei clandestinamente na sala vip da viação cometa ( sei que esse meu ato não foi o mais honesto possível, mas se mais passageiros como eu repetirem o feito, a Cometa pode alertar-se para o fato de que a inclusão do destino "arthur nogueira" pode ser lucrativa) e por lá fiquei. eu e o veríssimo pai. entretidos e maravilhados. li "o prisioneiro". como gosto dessa escrita, dessas descrições.
uma olhadela no relógio me levou até a plataforma 28, e lá embarquei. ônibus cheio. do meu lado, uma menina de 12 anos. o nome, laura. "seu nome é laura? o meu também..." e ela me respondeu com um sorriso doce e quieto. senti que aquela troca de intimidades com uma estranha infante foi desnecessária segundos após esse breve diálogo. mas, ora! estava dito! voltei aos meus silêncios e ao meu veríssimo, que aguardava-me cheio de frases e palavras lindas.
o passageiro que assentava-se logo a minha frente possuía um celular extravagante, um fone inútil e provavelmente não conhecia as regras sociais dos ambientes públicos. ele ouvia algum forró. não contente com a própria satisfação, decidiu compartilhar com o resto dos passageiros essa experiência auditiva. tirou o fone, e aumentou o volume. o ônibus, outrora silente e pacífico, tornou-se praticamente uma estação de rádio. as pessoas se movimentavam e cochichavam, mas ninguém se pronunciava.
eu estou na minha fase silente. não queria ser a porta-voz dos outros 39 passageiros. esperei 2 minutos. ninguém se moveu. então o temperamento sobrepujou a situação. vesti a capa da voz suave e grave: "senhor, senhor! pode, por gentileza abaixar o volume?" e ele replicou com um irritante tom médio e invasivo: "quê?" antecedida por um profundo suspiro, repeti a sentença, agora na versão imperativa: "abaixe o volume." e ele concordou, silenciando o pobre cantor, que teve seu público diminuido para 1 ouvinte. pobre, pobre!
voltei ao meu veríssimo. depois recorri as minhas audições e felizmente, não compartilhei com o resto dos passageiros.....
cheguei em casa feliz, insipirada e falante. mas obrigatoriamente, esses meus dias precisam ser quietos.
então, silenciei.

14.11.09

seconde

eu amo essa arabeske...

ps: pra quem não está entendendo a razão da postagem desses vídeos, favor ler 2 posts abaixo..

premier

debussy, pra começar bem a semana.....


só a título de esclarecimento

uma tristeza profunda me invade toda vez que lembro que amanhã, dia 15 de novembro, em campinas, Nelson Freire dará um concerto com a sinfônica da cidade, e tocará o 2º concerto de Chopin...

só mesmo uma debilidade física para me impedir de estar presente...

e é o caso.

portanto, postarei coisas que me alentam o coração nessa hora triste.

5.11.09

dias paulistanos


são paulo. 35 graus centígrados. 17:30 hs. metrô.

desespero, tumulto, falta de ar, dor de cabeça, gente desconhecida E SUADA se enconstando, barras de ferro pegajosas, conversas alheias de norte a sul. o destino é ainda mais apavorante : terminal rodoviário tietê. 

ainda que eu não goste muito de redigir minhas estórias em primeira pessoa, terei de fazê-lo desta vez...não tem como.

A situação ficou ainda mais caótica quando o "trem" a nossa frente quebrou, provocando assim um "engarrafamento subterraneo". Ameacei ter um acesso de claustrofobia, mas minhas orações incessantes me trouxeram tranquilidade, ainda que meu estado psicológico estivesse bambo na linha tênue entre o desespero e a calma. Quando a parada foi "Sé", é que a desgraça se fez...andei pensando, mas não existe nada que eu possa fazer com as palavras que transmita verdadeiramente qual foi o meu desespero naquele momento.
Ao finalmente, desembarcar deste pesadelo, olhei para o relógio: 18:04 hs. Corri em direção ao balcão da "viação bonna vita", e perguntei que horas saía o próximo ônibus para Arthur Nogueira (a má vontade destes atendentes de balcão sempre me impressionou! Ora! Eu, recém chegada de uma visita ao inferno e eles todos envolvidos nas ternura fresca do ar condicionado...um pouco de presteza não faria mal..) Calmamente - acredite, com muitíssima calma - o atendente me informou que o ônibus que eu procurava partira havia exatos 4 minutos, lançando sobre mim um atrevido olhar de pena. 
Saí bufando, mas já sem muitas forças. A noite mal dormida me provocou intensas dores de cabeça durante o dia todo. E agora, ela só aumentava..
No balcão da "cometa", uma fila enorme...paciência, paciência, 123456789 10.........o próximo ônibus para Campinas partiria em 10 min. Nem pensei. Embarquei no ônibus e num sono pesado e profundo...
Não sei se sou sozinha nesta opinião, mas não tem nada mais deprimente do que ser acordada pelo motorista do ônibus, depois que todos os outros passageiros já desceram, já retiraram suas malas, e até uma nova fila de passageiros formou-se em frente ao ônibus. Todos prontos pra embarcar.....odeio, odeio!...mas aconteceu......
Saí correndo, a procura de um ônibus para arthur. Não tinha mais. somente circulares, e para Cosmópolis, a cidade que antecede arthur nogueira...
Mesmo assim, saí atordoada pelas ruas de Campinas. Noite quente, abafada, dia indescritivelmente cansativo. Parei no ponto de ônibus. Pedi informação. Estava no ponto errado. Saí a procura do novo ponto, e acertei. Felizmente, o ônibus ainda não havia passado. Quando finalmente chegou, ao subir as escadas, eu perguntei ao motorista se o ponto final era realmente a rodoviária de Cosmópolis, num tom desesperançoso. Ele respondeu com um sotaque inesquecivelmente interionano : " Não senhora. Este ônibus vai até Arthurrrr Nogueirrrrrra".....
Meu rosto se encheu de uma luz que até fê-lo assustar! Subitamente, todo o cansaço ficou para trás e eu sorria como se estivesse dentro do veículo que me levaria ao céu.

Liguei o ipod, e a música me embalou.Ah, se não fosse ela... Esqueci da dor nos pés, da mala a tira colo, da dor de cabeça, das pessoas grudentas que se encostavam, da falta de ar, do calor e até do sono...

Segui, e segui feliz!

Ah! Eis a cereja do bolo: o circular tinha ar condicionado.....rs.

2.11.09

hoje

não adianta reclamar, espernear...
a saudade é como uma mão cruel que aperta tudo que de vivo existe. 
e permanece. 
o jeito é conformar-se com a presença dessa dor aguda e esperar. 

ainda que seja doloroso viver nessa angústia, a lembrança dos dias que estão por vir serve como consolo sustentando um sorriso oscilante, frágil, mas genuíno.

...