25.6.14

resquícios de noiva

aqui e ali, vou encontrando coisas pequenas, mas que me dão uma saudade grande (que passa rápido...rs!) de ser noiva.

uma vez na vida, e depois, a gente olha e relembra :)


do nosso lar...


tão bom ver o quebra-cabeça se completando aos pouquinhos :) :) :)

24.6.14

arte das terças: johannes vermeer

muitas terças depois, e o "arte das terças" está de volta.

em 2012, fiz um relato sobre minha visita ao museu do louvre. nele, falei rapidamente sobre minha passagem pela ala das pinturas holandesas.

pois bem! minha maior curiosidade em ir ao louvre sempre se deu devido a vontade de ver ao vivo as pinturas de johannes vermeer, que é o nosso pintor de hoje.

foi um artista holandês do século 17, e por séculos, intrigou a crítica e o público interessado em arte pela luminosidade incomum que suas pinturas têm. essa é uma característica que se repete invariavelmente em sua obra.

outro traço intrigante é a quantidade de detalhes e de cores que geralmente o olho humano não pode perceber! tudo isso, ele conseguia incluir em suas telas. nenhum de seus contemporâneos conseguiu reproduzir essa riqueza de detalhes e matizes, que faz com que os quadros de vermeer pareçam imagens fotográficas.

eis aqui algumas de suas obras mais famosas:

girl with a red hat

os próximos dois estão no louvre, e foram os que eu vi quando fui :)

the lacemaker

the astronomer
the music lesson

women with a water jug

e o mais famoso de todos (tem até filme sobre esse, que diga-se de passagem, é ma-ra-vi-lho-so!):

girl with a pearl earing

quando cheguei ao museu do louvre, passei pela monalisa. mas tinha tanta, tanta gente, que fui procurar refúgio na ala das pinturas holandesas, onde vermeer reina! :) 

essas foram as fotos que eu tirei dos quadros dele expostos lá.
são bem pequenos (isso foi decepcionante), mas realmente a luz que ele conseguia trazer para as suas telas é impressionante!!!!




a verdade é que há tempos, estudiosos desconfiam que vermeer era um intelectual, que se utilizou da mais avançada tecnologia da época para aprimorar sua técnica. o que sempre se soube, é que ele usava a camera obscura, que seria um ancestral da câmera fotográfica que temos hoje. há livros e estudos publicados sobre o assunto.

mas um inventor sagaz chamado tim jenison foi mais a fundo, e resolveu ir `as últimas consequências para descobrir a técnica que vermeer usava!!! essa jornada começou em 2008 e durou 5 anos, transformando-se num filme chamado "tim's vermeer", lançado semana passada :)

tive a alegria de assisti-lo anteontem (meu pai comprou e assistimos juntos), e fiquei absolutamente embasbacada com a inteligência desse inventor!!! no filme, ele alega que vermeer não usava somente a camera obscura, mas usava uma combinação de lentes, luz e espelhos para conseguir pintar tão perfeitamente quanto uma imagem fotografada! para provar isso, tim jenison reproduziu fisicamente o cenário do quadro "the music lesson", e mesmo sem ser pintor, se propôs a pintar o mesmo quadro usando essa técnica!!!! e CONSEGUIU!!!!!!!! é impressionante!!!!!!

vale MUITO a pena assistir!!!

eis aqui o trailer :)



o ponto de tudo isso é provar que a tecnologia e arte não são rotas opostas, e podem sim, andar de mãos dadas, se o objetivo é atingir o melhor resultado possível!

e palmas pra johannes vermeer, que no século 17, conseguiu desenvolver uma tecnologia de pintura que consagrou sua obra, diferenciando-o de tudo o que existia em seu tempo! :)

uma saudade "matada"...


a semana passada foi uma das mais cansativas dos últimos tempos.
mas nela, matei a saudade de cuidar, e de ensinar crianças.

quando acabou a semana, senti um aperto no coração, e uma saudade precoce.

e então, eu soube que esse amor vai me acompanhar pra sempre, por onde eu for...

sobre a copa...


casei com um fanático por futebol.
pra mim, é uma novidade lidar com essa relação homem-futebol, porque na minha família imediata, os homens pouco se interessam por essa arte; uma manchete sobre os resultados lhes é o suficiente.

nesses últimos dias, aprendi quem é o bom cabeceador da holanda, sei qual jogador chileno corre mais rápido e quais são os jogadores da alemanha...

os jogos têm se tornado um motivo pros brasileiros da área se juntarem e torcerem (apesar de a maioria substituir as antigas queixas `a política por queixas `a seleção que foi escolhida pelo felipão...)!

de qualquer maneira, eu grito muito.
e faço comentários bem femininos, que os homens geralmente não gostam...rs!

mas meu coração pulsa junto com o povo brasileiro.
e é tão bom ver esse povo sendo patriota!
pelo menos de 4 em 4 anos...

:)

28.2.14

o mundo da música chora por vc, paco...


pude assisti-lo em 2012....
e esses dias, ele se foi.

que semana triste!

fica aí, a minha lembrança em vídeo... um vídeo tremido e ruim, e uma música que nunca mais existirá...



12.2.14

pra quinta


faz tempo que não assisto um concerto, daquele jeito que eu tanto fiz...
pois quinta, assisto anne-sophie mutter.
que presente ouvir seu violino impecável na noite de véspera de dia dos namorados no hemisfério-norte!

um email perdido, quase fadado ao lixo me alertou sobre a presença da violinista por aqui.
e o grande sinal de desconto no preço foi alerta maior...

com as boas mudanças, esse é um hábito que tanto gosto, pra manter pela vida.

quinta será um dia ainda mais feliz, se é que isso é possível :)


bonito



a beleza pode nos passar pelos olhos, enchê-los de vida;
se não há nada de belo por antes destes, é morte que reina quando a beleza se vai.
mais bonito que a própria beleza é a arte de fazê-la perene, em alguém, naquilo, nisso.

beleza por si não adianta nada...
ela vem e vai.
a vida mais vivida é quem melhor apresenta essa tristeza de verdade.

nem tanto a beleza de traços, de olhos, daquelas que desenhista gosta.
mas de cores, de ares, instantes...

nada mais lindo que ver a beleza passar... e ser tudo ainda tão bonito.


25.1.14

paredes vestidas


mesmo antes de casar, eu já sabia que queria quadros na minha nova casa.

da lua-de-mel, eu trouxe chocolates, canecas, livros sem linha, caneta tinteiro e quadros... (e meu marido é um santo...rs!).
claro que não foram só telas, porque não caberiam nas malas.
mas aquarelas, posters, retratos...

a arte é infinita.
queria que minhas paredes também fossem... :)

das coisas que nos inspiram a viver mais e melhor

título longo.

numa dessas manhãs passadas, acordei e percebi no twitter um "parabéns" do perfil do @SteinwayAndSons ao documentário "the lady in number 6" pela indicação ao oscar.

fui ler a respeito, e sinceramente, uma das coisas mais inspiradoras que já vi nos últimos tempos.

trata-se de um retrato da pianista mais velha do mundo, e também a mais velha sobrevivente do holocausto.

109 anos, e nesse trailer, toca a invenção a 2 vozes de bach n.8 com uma destreza incrível... faz até o toque que é típico do barroco.

ela também é só sorrisos. 
e reclama que todos a sua volta são tão sérios...

que inspiração.
que inspiração...


da semana

minha casa nova ainda não tem piano.
nesse sábado a noite, fiz uma visitinha aos meus pais, e lá estava meu ex-yamaha.

ah, a vida com piano...

20.1.14

claudio abbado


morreu hoje aos 80 anos, o famosíssimo maestro italiano, que regeu a orquestra filarmônica de berlim (considerada a melhor do mundo) de 1990-2002! conhecido pela música refinada que produzia e seu vasto repertório sinfônico...

eu não tinha um sentimento forte sobre sua pessoa, mas reconheço sua competência musical e importância no mundo erudito...

aqui um artigo falando sobre sua morte, e abaixo, um vídeo de uma performance completa do requiem de mozart, que foi apresentado em salzburg em memória de 10 anos da morte do seu maestro antecessor e mentor na orquestra filarmônica de berlim: hebert von karayan (esse foi mais mito ainda, e muito mau também...rs)!

sugestão: assita a partir do minuto 0:45, que é o começo do benedictus, com um quarteto MA-RA-VI-LHO-SO! irretocável... e a regência emocionada de abbado no final é linda de assistir também!

novo ano, nova vida

o ano começou dia 1;
casei dia 2;
voltei da lua-de-mel dia 16;

e a vida segue... na melhor e mais completa forma que possa existir.
o blog também segue.

aqui, recomeço um ano de palavras e de músicas...

feliz ano novo :)

6.12.13

27 dias

e eu me assustei ao ver a última data que postei aqui!
a-gos-to!

nem vi os últimos meses passarem...

agora, faltam 27 dias para aquele dia.
não percebi o tempo passando;
e por outro lado...
já é hora :)

ps: em breve, posto uma sessão de fotos cheia de amor, típica dos casais que querem muito mostrar a felicidade...rs! eu nunca gostei tanto de fotos assim, e cá estou eu, rendida!! :) :) :)

só uma amostrinha...


28.8.13

obsessão de hoje

porcelana portuguesa azul!
muitos, muitos suspiros...
eu aceito de presente, ok?
:) :) :)




27.8.13

de antes e agora


eu antes gastava meus dias procurando partituras, me alegrando com descobertas de blogs sobre música, habitando livrarias, garimpando concertos possíveis e sonhando com os impossíveis.
passava meus dias ouvindo e descrevendo, tirando conclusões sozinha e me contentando com elas.
eu antes vivia o meu próprio mundo de música, de livros, de arte... e de abstração.
vivia para o trabalho e para realizar coisas.
vivia inflamada pelo amor `a arte, que era tão real quando inatingível.

hoje, eu ando por livrarias e compro revistas de decoração, de casamento, livros de conselhos sobre relacionamentos...
hoje eu me preocupo com os diferentes tons de branco, os nomes das flores e dos tecidos...
eu garimpo sites de móveis usados, gasto meu tempo no trânsito para a casa que logo será minha, ando com uma fita métrica na bolsa e com as medidas de cada cômodo e converso, discuto... falo e ouço muito!
hoje eu vivo num mundo em que a minha opinião não é a única, e nele, chegar a uma conclusão demanda trabalho e tempo.
eu hoje vivo para alguém, e para realizá-lo... vivo inflamada pelo amor a ele, que é tão irreal quanto palpável.

na verdade, das minhas audições cuidadosas, sobraram os momentos no carro, nas horas de trânsito, em que as rádios eruditas (90.9 e 91.5) se revezam. quando uma fica muito histérica (strauss, tchaikovsky) eu mudo pra outra (mendelssohn, schubert)...principalmente de manhã.
esses carros de hoje em dia tiraram toda a graça de ouvir rádio erudita: não dá mais pra adivinhar o compositor ou a obra. os visores eletrônicos contam tudo isso... malditos!

a vida segue.
a vida corre.

`as vezes tenho saudade de mim.
mas então me olho e vejo que não mudei; me ajustei...

simplesmente, não sou mais só eu.
e a vida a dois é isso...

é muito melhor viver um amor do que ser inspirada a um, sem tê-lo...
é muito melhor ser eu e ele, do que só eu e música...
porque no fim das contas, seremos sempre ele, eu e a música!

:)

1.7.13

arco-íris


experimentando todas as suas cores...
e entendendo que "qualquer amor já é um pouquinho de saúde"...
aliás, se é assim, virei imortal :)

"a terceira margem do rio"...

hoje foi noite de guimarães rosa pra mim...

reli uns pedaços favoritos de "sagarana" e li pela primeira vez o conto do título aqui...
tão triste quanto bonito.
mas essas duas coisas me assaltaram com tanta força, que acho que não consigo dormir.
e amanhã tenho médico cedo...

vou copiar e colocar tudo aqui.
uma escrita fina e regional.
tão sensível que a leitura não é um mergulho; é um afogamento.

se você não quer esse sentimento duplo de tristeza e encanto, não leia.


A Terceira Margem do Rio
Guimarães Rosa

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.

Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.

No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.

Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.

A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.

Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.

Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.

Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.

Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32, cuja compra e leitura recomendamos.

14.5.13

de coelho a ser mãe

olhando pra varanda daqui de casa, avistei um coelhinho pulando.
achei tão bonitinho...
então meus pensamentos começaram a vagar por caminhos que nem sei, e então lembrei que coelho neto escreveu um poema bonito sobre as mães...rs!
hahaha! a mente é uma coisa fantástica!

fica aqui, minha homenagem atrasada a todas as mães, em especial a mais linda de todas, que é a minha :)


Ser Mãe 
de Coelho Neto
Ser mãe é desdobrar fibra por fibra 
o coração! Ser mãe é ter no alheio 
lábio que suga, o pedestal do seio, 
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra. 

Ser mãe é ser um anjo que se libra 
sobre um berço dormindo! É ser anseio, 
é ser temeridade, é ser receio, 
é ser força que os males equilibra! 
Todo o bem que a mãe goza é bem do filho, 
espelho em que se mira afortunada, 
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho! 

Ser mãe é andar chorando num sorriso! 
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada! 
Ser mãe é padecer num paraíso! 

sobre o sucesso

vi esses e desenhos, e concordei em todos os níveis...
e só há um detalhe: em certos casos, a linha sobe, mas nunca fica reta.
pra pensar...



"an oldie, but goodie..."



6.5.13

"bloody daughter"

minha tia que mora na suíça veio passar uns dias conosco aqui nos eua, e em certo momento, me trouxe uma felicíssima novidade: "há um documentário novo sobre a martha, aquela pianista que você gosta. está passando nos cinemas lá na suíça.."!

eu nem fazia idéia.
no mesmo momento, obviamente, fui pesquisar a respeito.
e é melhor do que eu pensava.

sua filha mais nova, stéphanie argerich, é cineasta e resolveu fazer um longa metragem com formato de documentário sobre a mãe, e não sobre a pianista. a obra foi intitulada "bloody daughter".

martha tem três filhas, cada uma de um casamento. stéphanie é a mais nova, fruto do casamento com o não menos famoso pianista Stephen Kovacevich.

o interessante é que alguns já tentaram fazer documentários sobre a martha, com o intuito de expor a natureza reclusa e complexa da pianista, mas nunca deu certo...
ela fala, fala, fala, e parece que não deu pra conhecer nem 2% do que ela é realmente.
coisa engraçada essa...
dessa vez, a filha resolveu fazer a tentativa, construindo algo parecido com um retrato de família, que envolve as três filhas, os dramas de ser filha de artistas, e imagens coletadas ao longo da vida.
mesmo assim, eu ainda não acredito que dê pra conhecer tanto da martha... mas acho a tentativa válida: certamente será interessante esse novo olhar.

enfim, vou ter que esperar pra saber, porque no momento, o documentário está sendo exibido apenas na suíça, e não tem data marcada pra chegar aos estados unidos...

abaixo, uma entrevista com stéphanie argerich, e logo em seguida, o trailer do documentário (que está em francês, mas dá pra pegar o fio da meada :)


by Rodrigo Carrizo Couto, swissinfo.ch
January 24, 2013 - 11:00
Classical pianist Martha Argerich is the focus of an intimate documentary, Bloody Daughter, by her youngest child, Bern-born Stéphanie Argerich.
The Franco-Swiss production, which looks at the issue of reconciling motherhood and a career, is being shown for the first time in Switzerland at the Solothurn Film Festival, which runs until January 31.
Martha Argerich, considered a “goddess” by her daughter and the greatest living pianist by many others, is a Swiss citizen and performs every year at the Martha Argerich Project in Lugano.

swissinfo: Where did the idea for the film come from?

Stéphanie Argerich: I’ve been thinking about Bloody Daughter for about ten years. At the beginning I was following my mother alone on tour in Japan, Argentina and Poland. But I lost motivation working on my own and moved onto other things. After the birth of my first son I wanted to finish the film. My mother has always fascinated me as someone who really should be filmed.

swissinfo: So for you Martha Argerich is not a piano legend but simply your mum?

S.A.: Absolutely. During the filming I had to keep reminding myself that I didn’t see her the same way as the general public, and so I had to keep my distance in order to maintain a coherent narrative. My mother is such a complex person that it was really difficult in the editing to decide what to show and what to leave out.

martha e as três filhas, da esqueda para a direita: a mais velha, lyda chen, a filha do meio, annie dutoit, a própria marta e a diretora do filme e mais nova, stéphanie argerich.

swissinfo: Are you worried classical music fans may be disappointed by your film, as it doesn’t really talk about music?

S.A.: I don’t see why. If they admire my mother, they will be happy to discover other sides of her life. Some might be shocked to see Martha Argerich in pyjamas. But that’s their problem not mine! That’s how I’ve always known her.

martha, stephen kovacevich, e as filhas stéphanie e lyda.




swissinfo: In the film you say, ‘I’m the daughter of a goddess’. What did you mean?S.A.: 

It’s obviously supposed to be humorous. I hope viewers understand that. She is so unbelievably beautiful and talented. She has this magic about her which I truly believe in. It’s difficult to explain, but I believe there are people who are different, in their own category. My mother is one of those exceptional people.


swissinfo: But isn’t being the daughter of a goddess a burden – or does it help you?

S.A.: Both. On the one hand living with someone like my mother is deeply inspiring. But on the other, when I look at myself I wonder what I’m doing with my life. You can’t help comparing yourself to her. Since I was a young girl I have always realised that I could never achieve what she has. Growing up with that kind of burden is not easy when you are trying to build self-confidence.  At the same time she has a very magnetic, powerful personality which is difficult to detach yourself from. That requires a Herculean effort.


swissinfo: What did your mother think of the film?

S.A.: She says she is ugly and says uninteresting things, and she doesn’t like to see herself in pyjamas (laughs).


swissinfo: There is a very special moment in the film when we learn that your mother lost the custody of her first daughter, Lyda, as she was not capable of looking after her.

S.A.: Yes, it’s very powerful. The film title is not just about me. It’s also about Lyda to a certain extent. This is a taboo subject in our family. You could say the story of Lyda represents the goddess’s dark side


swissinfo: What nationality is your mother?

S.A.: She’s [Argentinian] but also a Swiss citizen and lives in Brussels. She doesn’t have strong ties to a particular country, whether it is Belgium, Switzerland or Argentina. She belongs to those people who have no clear roots. Her country is her music and the musicians.


swissinfo: But Switzerland was not just a footnote in her life…

S.A.: No, of course not. She was very happy in Switzerland. Her international career began when she won the Geneva International Music Competition [in 1957]. This made a big impression on her. She also lived here with her mother, and in Geneva she struck up a long-standing friendship with the Brazilian pianist Nelson Freire. When she looks back on her childhood here, she talks about her fascination with the security and sense of protection in Geneva – being able to leave your house and car doors open.

swissinfo: Do you think your mother is misunderstood in the music world?

S.A.: Perhaps. She is a rebel and has a very democratic view on life that doesn’t fit well with the rules of the musical world with its stars and privileges. During the Martha Argerich Project in Lugano, all the artists are paid the same. But obviously this egalitarian approach shocks promoters and music executives.

swissinfo: One of your mother’s strongest character traits is said to be her generosity.

S.A.: That’s true. She is a very generous mother in a musical profession in which generosity is often missing. She is so generous that she is often taken advantage of. She doesn’t know how to say no and is afraid of generating hostile reactions. Sometimes it’s easier for her to do what people ask and then move onto something else, so that people leave her in peace (laughs).
Rodrigo Carrizo Couto, swissinfo.ch
(Translated from Spanish by Simon Bradley)


9.4.13

eu estava lá!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

foi tudo registrado em fotos e palavras aqui.
agora eu achei o registro em imagens...

que dia...
que memória!

sobre a música e suas pressões

faz tempo que não re-posto os escritos do regente mark wigglesworth.
lendo seu blog hoje, achei esse tema interessantíssimo e ultra pertinente pra quem faz música.

o que dizer das pressões que todo músico enfrenta? 
neste texto, o autor analisa as críticas e o papel que elas exercem no mundo erudito. 
mas fora dele, mesmo que não sejam escritas, as críticas podem ser cruéis e desinformadas...
como lidar com isso? não adianta fingir que não existe, porque existe e é forte, forte!

tão pertinente a citação que wigglesworth faz de aristóteles no fim do texto, em que o filósofo diz que para evitar a crítica é preciso "não dizer nada, não fazer nada e não ser nada"...

a quem já teve seu precioso tempo se ocupando com esse tópico, e se chateando, eis uma leitura interessante :)

ps: o texto está em inglês, mas nada que o google tradutor não resolva! a leitura vale a pena :)


Press Ups and Downs

A performer’s relationship with the critics is complicated but unavoidable

Mark Wigglesworth 11:31am GMT 8th February 2013
Ask musicians if they read their reviews and they either say yes, or they say no, or they say no and mean yes. It’s a slightly taboo subject but, like it or not, criticism is a fundamental part of the music world. The relationship between performers and critics is symbiotic, an intriguing equilibrium hovering somewhere between wary respect and circumspect appreciation. Performers have the power to move thousands. Critics can validate it to thousands more. Or not.
It’s unfortunate that a critic’s job description carries with it such negative connotations. But without disapproval, approval has no context. No one wants universal castigation, yet there’s also something disturbing about constantly gushing superlatives. Perhaps it’s true that the most interesting performances are those that divide the critics completely.
One of the biggest dangers for performers is to become self-conscious, and though there are things one can learn from what are normally unbiased reactions, over-engaging in reviews makes it harder to avoid that. And opening yourself up to the influence of any number of different opinions can confuse and dilute your own view. Most performers are their best, and certainly harshest, critics and the wider scale of other people’s observations, whether good or bad, shouldn’t out-weigh the value of one’s own personal opinions. There’s plenty to gain from discovering what someone thinks of your work, but in the end there’s probably more to lose.
Unfortunately, avoiding reviews is difficult. Even if curiosity, or vanity, doesn’t prevail, you tend to discover how your performances have been received. It’s funny how there are always plenty of people who mention your good reviews, yet no one lets you know when the opposite is the case. The ominous silence in the days that follow some concerts tells its own story. And however much one can be encouraged that there’s never been a musician who hasn’t been lampooned at some point by someone somewhere, negative criticism undoubtedly has an effect. ‘I pay no attention to anybody's praise or blame. I simply follow my own feelings.’ That’s easy to say if you’re Mozart. After a bad review it’s hard to agree with Oscar Wilde that it’s ‘better to be talked about than not talked about at all’. Most performers are insecure. Self-doubt is a pre-requisite to discovery. But there’s a difference between asking questions of yourself in private and having them answered by others in public.
Nevertheless, dealing with criticism is a small price to pay for the privilege of performing and the two have always gone hand in hand. I doubt Aristotle was being original when he said the only way to avoid criticism is to ‘say nothing, do nothing, and be nothing.’ Hopefully one develops a skin sufficiently thick to stop the jibes getting in, yet thin enough to allow one’s own feelings to still get out. To combine sensitivity with insensitivity and to remain relaxed about the judgements of others isn’t easy. But it’s a worthy goal to have - whether you’re a performer or not.

post de avião

comida de avião é o fim!
que tristeza...

enquanto eu estou aqui, sobrevoando o estado do texas, lembrei desse pecado (do qual não me arrependi! :)

...

bolo floresta negra, bolo de framboesas, chocolade quente feito com chocolate mesmo e a branquíssima floresta que é negra lá fora...

ó.





o fundo do mar

uma canção que sai do nosso corpo, do coração, da mão, da mente é quase tão nítida quanto uma foto no espelho, só que por dentro.

essa, em especial, foi um divisor de águas pra mim.
sou antes e depois dela.
porque foi nela que experimentei a verdade da liberdade.

queria que todo o mundo visse, soubesse, entendesse...
como não consigo, eu canto.

8.4.13

"the app you've been waiting for"...

sim.

eu, que escrevo a música a mão, ali no piano, apago as notas erradas, rasgo o papel ou danifico uma ou duas linhas da pauta com a falta de experiência provando não ter a habilidade de mozart de arrumar a grafia musical na cabeça antes de passar pro papel... e no fim das contas nunca transferindo nada pro computador.... sim! eu realmente estava esperando por esse app, que será lançado no segundo semestre desse ano de 2013.

escrever a mão digitalmente...
obrigada tecnologia, por atender aos mais lerdos.
sempre tive inveja daqueles que conseguiram manter a criatividade no mesmo nível mesmo com a transição do manuscrito (obrigatório) para o digital...

agora, a inveja acabou.
:)



12.3.13

.

a vida é uma selva.
infelizmente, não somos animais. selva é feita pra bicho, não pra gente.
cada vez que me deparo com essa conclusão, me dá uma tristeza...

10.3.13

372 dias

sábado passado fez um ano...❤



6.3.13

nostalgia - yoyo-ma + ennio morriconi

já é hora de correr pro embarque.
mas eu quero deixar esse pouco de beleza, que me acompanhou bastante nessas últimas semanas.

eu digo pouco porque é curta a canção, mas nela há baldes e mais baldes de tanta coisa linda....

boom dia :)

os homens da religião


se dormi 2 horas essa noite foi muito.
voo internacional cedo de manhã é triste e feliz.
triste porque isso significa cruzar a cidade de são paulo antes das 6 am (zzzzzz) e feliz porque as 5 da tarde, eu estarei em casa, lá em washington...

as 5 am, o taxista passou pra me buscar, não menos sonolento do que eu.
meu plano era entrar no carro e dormir profundamente os 40 minutos sem trânsito de marginal tietê... mas a conversa com o motorista aconteceu, e aconteceu tanto, que aqui estou, ainda acordada.

qual a sua profissão?
cantora... venho ao brasil pra cantar.
nossa! 
silêncio.
você canta aonde? em bares? festas?
não, não! sou cantora de música cristã.
ah! música gospel?
isso!
então você canta mais em igrejas, né?
exato!

e assim se desenrolou uma enorme conversa de um dito "não religioso" que sabia tudo, absolutamente TUDO sobre as fraudes de alguns dos líderes religiosos brasileiros, que de vez em sempre aparecem na televisão envolvidos em escândalos... ou então, num jatinho particular, com dezenas de pinduricalhos de ouro e fazendas com milhares de cabeças de gado...

isso tudo o taxista me contou em detalhes.
contou o nascimento de 3 denominações evangélicas no brasil... como elas aconteceram, como se tornaram conhecidas e com muita indignação, ele citava escândalo atrás de escândalo, sempre transtornado com a idéia de dízimo, de oferta... foi quase uma aula de história denominacional brasileira.

chegando ao aeroporto, já não havia muito mais tempo.
eu com o coração apertado. que coisa triste essa bagunça, essa má impressão, e pior, a generalização inevitável.

ele arrematou: "não sou religioso, mas acredito que a religião seja uma coisa boa. ajuda as pessoas e faz bem a muita gente... hoje em dia eu não preciso da religião, mas se um dia eu precisar, eu viro religioso..."

desabafos a parte, estava ali alguém sincero e absolutamente descrente, cego pelos homens da religião, e não pelo Deus da religião.

falei pouco sobre mim, minhas crenças. não porque eu não quisesse, mas não deu tempo... o que aconteceu ali foi um imenso desabafo.
o trajeto ao aeroporto que geralmente é eterno, foi curto hoje.
meio sem jeito, e com MUITA raiva por não ter um cd meu na bolsa (como geralmente tenho), eu disse: "laura morena. se o senhor tiver tempo, entra no youtube depois e assiste. há vídeos lá."
ele parou o carro, pediu pra eu repetir o nome, achou um bloco de papel e anotou.
"é pra eu não esquecer. vou assistir sim".
e eu saí me desculpando novamente por não ter um cd na bolsa (que raiva!)...

assisti o carro partir, e pedi misericórdia `Aquele que personifica essa palavra.

misericórdia pelos erros, pelos enganos, e pelos sinceros que precisam de óculos para enxergar o Deus além das placas de igreja, do dízimo, das fraudes... pedi que Ele lhes abrisse os olhos, o coração fechado...

nem sei se ele vai ouvir algo que canto.
não sei se algum dia ele se interessará por igreja alguma, por Deus...
mas sem o tempo suficiente, a única coisa que pude deixar foi a música, pra que ela diga o que eu não consegui... seria desolador partir em silêncio.

meu coração tem aquela esperança quase pueril.
quem sabe, ele compreenda o amor... é na realidade o que eu mais queria.
quem sabe...

22.2.13

a maturidade

poucos dias atrás, eu postava embasbacada sobre esse menino, yoav levanon, que me arrancou suspiros com sua música incrível aos 7 anos de idade.

fuçando, encontrei este outro vídeo.

aqui, ele se apresenta com um porte diferente, muito seguro, numa peça muito mais longa (um CONCERTO pra piano e orquestra), do alto dos seus 8 anos de muito amadurecimento!!

rs...

o incrível é que realmente, em 1 ano, como o som amadureceu... é fácil chegar a essa conclusão não só pela performance do concerto, mas em nível comparativo, é fica claro esse amadurecimento durante o bis, em que ele tocou o impromptu op. 29 n.1 de chopin: o mesmo que tocou nesse primeiro vídeo que postei!
os deslizes são mínimos, e mesmo quando eles ocorrem, yoav parece se enfurecer e faz da performance seguinte algo ainda mais surpreendente. tem muito mais alma e a peça já é mais "dele" do que antes...
de modo geral, ele tende a correr, tocar tudo mais rápido. não só porque ele pode, mas porque isso é típico da idade. nota-se bastante isso no terceiro movimento do concerto...
mas no segundo movimento, quase choro!
que alma, que alma...

segue aí, o concerto para piano e orquestra de joseph haydn em ré maior, por um menino de o-i-t-o anos de idade, que não simplesmente toca, interpreta!

15.2.13

happy valentine's day!














se você está no hemisfério norte (ou mesmo que não esteja) e celebrou esse dia dos namorados, meu desejo é que seu dia tenha sido cheio de mimos, sorrisos e muito amor...pq o meu foi, rs!
não tem coisa melhor do que agradar quem a gente ama...

ps: o blog está formatado no horário do brasil, e eu não consigo trocar. aqui nos eua ainda são 11:35 pm do dia 14 de fevereiro....rs!

12.2.13

não pode ser desta terra...

isso é sério.
C-O-M-O? 

rs...
yoav levanon, pianista de uma sensibilidade incrível, e de 7 anos de idade.

esse prodígio israelense levou a medalha de ouro na competição AADGT, e nesse vídeo, toca chopin como gente grande.

a música que ele faz é linda, mas mais bonito ainda é como ele se dá o devido tempo de entrar nela, ou de ouvi-la, antes de produzi-la. 
achei isso a melhor coisa do vídeo. 
que momento maravilhoso ele cria antes de tocar uma sequer nota.

assista!
assista mesmo!