em memória de clênio abreu

acordei com frio. a porta de vidro entreaberta me assaltou o sono.

e toda a energia que deveria ter sido acumulada durante o descanso, não surgiu.

hoje, ao ministrar uma aula de piano, meus olhos quase fecharam.

lembrei do clênio e de todos os comentários ao redor do seu estranho costume de dormir durante as aulas de piano que dá.

eu digo: é difícil.

ainda mais se o pupilo não entende o que é dinheiro, tempo, e simplesmente não faz questão de estudar. daí é o mestre quem tem a obrigação de ouvir o resultado de um aluno despreparado e pior, musicalmente iletrado.

eu que tive frio a noite mas não encontrei forças pra fechar a porta da varanda achei nas notas erradas e trêmulas um espaço pra esconder minha íris.

não sucumbi por completo. é importante frizar que isso não aconteceu. mas rodeei uns terrenos fora da realidade.

não culpo o clênio. nem julgo.

coisa dura essa. tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. eu tento, mas não me viro em mil!

saí chateada. uma hora ainda quase fui pega. quase.

não fosse o meu grande repertório de faces e expressões, seria desmascarada.

preciso dormir mais, ou susbstituirei o lugar do clênio nas fofocas.