16.1.12

sobre técnica e os virtuoses/mortais :)

começo dos anos 70, esse é um pequeno trecho de uma famosa e longa entrevista feita com a pianista argentina martha argerich ao lado do então esposo, o maestro charles dutoit (que eu assisti reger ao vivo aqui!). eles formaram um belo par musical, mas ficaram casados apenas 5 anos. no entanto, fazem músicas juntos até hoje...

apesar de falar muito, ela não é articulada. 
a entrevista é em francês, mas eu me dei o trabalho de traduzir (mal e porcamente) para o português (mesmo sabendo que basicamente ninguém lerá...rs!) só pra provar que mesmo sendo virtuose e super experiente, t-o-d-o-s têm dificuldades em se tratando de técnica de instrumento, seja ele qual for, inclusive ela!
em algum momento, é preciso sentar e ESTUDAR....rs!

algumas instruções sobre a tradução:
tudo o que está em vinho é fala da martha;
tudo o que está em azul é fala do entrevistador;
tudo o que está em verde é fala do dutoit;

:)




"então, é melhor praticar um pouco e estar em forma...mas é muito psicológico também" 

"como assim?"

"bom, não funciona estar sempre "colada"ao piano; não quer dizer que será melhor. no meu caso, por exemplo, muitas vezes estava "grudada" no piano e as coisas não funcionavam do jeito que eu queria, e em outro momentos estava menos "grudada"e funcionava. depende de várias coisas, como estudar com calma, relaxada, ou estar histérica... se eu preciso deixar uma peça pronta em 4 dias, não terei tempo de trabalhar nas outras peças. então, numa situação assim é diferente de estudar relaxada.."

"mas não tem como aprimorar ainda mais a sua técnica? um jeito de manter sua técnica que exija um trabalho diário e regular?"

"não se perde a técnica assim, com essa facilidade. ela não some... é também uma questão de sorte..."
"mas há pianistas que tocam escalas todos os dias..."
"não, isso eu nunca fiz!"
"nunca?"
"não!"
"então o que você faz? 
"nunca faço escalas, nunca faço exercícios.....você sabe o que eu faço!"
"eu sei o que você faz agora, mas não sei o que fazia antes."
"mas eu nunca toquei escalas."
"então o que você faz?"
"ah! outras coisas....eu pratico as peças, e só! e quando aparece uma parte que não "sai", eu pratico somente aquele trecho."
"então você trabalha sua técnica direto nas peças? "
"sim!"
"você nunca fez exercícios?"
"não...talvez alguns poucos quando eu tinha 11 anos. não é porque alguém estuda um livro de exercícios que vai conseguir tocar bem quando uma dificuldade "x"aparecer numa peça, simplesmente porque será diferente. por exemplo, o fato de você ter praticado terças não significa que você terá facilidade em tocar o estudo para terças de chopin. você me entende? ou o estudo de oitavas, etc..."
"mas há o trabalho puramente mecânico, e é disto que estou falando. existem alguns métodos para desconectar os dedos da peça, num problema especificamente físico... como é que se faz isso?"
"ah! quando se é criança, ou talvez um pouco mais velho? depende.."
"mas eu estou falando de você."
"quando eu era criança? (suspiro) bom, meus dedos não gostavam quando eu fazia essas articulações. quando tinha uns 6 ou 7 anos eu praticava as articulações das peças que eu estava estudando, especificamente."
"talvez seja porque você não tem nenhum problema com técnica?"
"mas é claro que eu sempre tenho problemas com técnica! mas não é... a técnica não é algo "separado" assim. alguém pode até dizer: "eu tenho minha técnica, está aqui, então agora eu posso tocar isso ou aquilo....".... não é assim, e eu não penso assim. acho que cada peça musical tem sua própria dificuldade, que é muito particular. no meu caso é assim. sempre senti isso. existem pessoas que dizem que eu tenho uma técnica maravilhosa, que não tenho dificuldades, mas quando começo a estudar uma peça, é difícil para mim..."

3 comentários:

  1. eu li! \o/ rs
    muito obrigado por se dar ao trabalho de traduzir e transcrever a entrevista. realmente é um incentivo para quem estuda algum instrumento. quando vemos mestres (ou monstros - no bom sentido) tocando seus instrumentos tão absurdamente bem, como a própria Martha, além de ficarmos maravilhados com tamanha desenvoltura, pensamos "será que eu dia tocarei assim?", e muitas vezes respondemos a nós mesmos negativamente.
    ser brilhante exige muito esforço; não se trata apenas de um dom.

    beijos, Laura.

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    1. bom saber que alguém lê, pq traduzir dá trabalho...rs!!!

      :)

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  2. Também li e agradeço seu esforço de traduzir.
    Mas é até difícil acreditar quando ela diz que ao começar estudar uma peça é difícil pra ela... essa gigante do piano???! Desculpa, não consigo imaginar ela “catando milho” no teclado...

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