19.10.10

sobre o dia de hoje: meu olhar


as competições foram intensas hoje.
bem mais do que ontem.

os três pianistas que competiram esta tarde tocaram o concerto n. 1, em Em.
o pequeno nikolay abriu a "noite" polonesa com um toque fluente, seguro, promissor. as notas pareciam pular de seus dedos e ele sem esforço nenhum, era o mediador entre as idéias e a música que acontecia quase que automaticamente.

logo em seguida, a minha querida yulianna avdeeva. tensa. começou o concerto suada.
tudo muito denso, muito sentido, muito pensado. muitíssimo diferente do pianista anterior. interessante comparar a mesma obra assim, quase que imediatamente e ao vivo. cheia de novas idéias, muito sentimento. foi ousada. os críticos agora elogiam sua interpretação, mas questionam se aquilo foi realmente chopin ou outra coisa....
não me importa. foi minha preferida da noite. e provou ser absolutamente impecável não só como recitalista, mas como concertista. as entradas e saídas do piano e o entrosamento com o maestro foram fantásticos (apesar de a orquestra ter deixado BASTANTE a desejar).
quando acabou, ela sabia que tinha ido bem. tinha sido criativa e ousada, e sabia! tinha um sorrisão no rosto e um ar de satisfação. eu, daqui da minha tela de computador, soltei um suspiro aliviado! ela conseguiu surpreender!

"last, but certainly not least", chegou a estrela da noite, o queridinho, o favorito.
eu não o queria tanto. fiz até uma twitcam assistindo seu concerto.
Ingolf toca lindo, seguro, é profissional. mas pra mim, é muita certeza. beira a arrogância. não me deixa querer desvendar qual será o som da nota seguinte. os caminhos pelos quais Ingolf conduz chopin são certos mas conhecidos. já foram trilhados. por vários momentos, eu tive a impressão de que seus dedos estavam no piloto automático, e ele só trabalhava as ênfases, os acentos. mas preciso admitir que sua conversa com a orquestra foi perfeita. ele também é mestre na arte de tocar como concertista!

a crítica amou. foi longamente ovacionado! já o consideram o 1º lugar.
temo por sua vitória (rs!). não porque não a mereça. é claro que merece!
mas fiquei intrigada com a resistência perante músicos que ousam, que tentam novas leituras, ou que tornam as interpretações tão suas que ninguém seria capaz de copia-las. esses valorosos corajosos são rapidamente elogiados e tão logo abandonados pelos holofotes, que ávidamente procuram iluminar performances tradicionalmente agradáveis, seguras.

não sei. ainda tenho fé no senso inventivo e latino da martha, no lirismo do nelson e na modernidade do philliphe entremont. quem sabe eles não levem isso em consideração na hora de decretar o veredito !?!

amanhã, ainda tem Lukas Geniusas (o terceiro e último dos meus favoritos).
mas não vou me alongar falando dele aqui. vou agora, trabalhar nos posts individuais dos três intérpretes que tocarão amanhã.

em suma: dia intenso e de longe, musicalmente mais interessante do que ontem ;)

Um comentário:

  1. interessante sua leitura da critica como estando "fechada" para as inovações. parece que esse é o caminho da música erudita desde o começo do séc 20. que tristeza... e ficam aí as carnes-de-vaca, quando tudo poderia ser muito mais diversificado!! seus textos estão óóóthemos! parabéns!

    ResponderExcluir