5.10.10

nossas musas eternizadas

eu já fiz dois posts mencionando a magda tagliaferro e apenas um falando da guimar novaes.

duas das maiores pianistas brasileiras da primeira metade do século XX.
musas mesmo.

hoje, encontrei esse texto, escrito pelo joão marcos coelho para o estado SP, comentando acerca da gravação do álbum duplo de Guiomar Novaes ao lado de uma caixa com dois CDs e um DVD de Magda Tagliaferro.
interessante e verdadeiro.

resolvi compartilhar parte dele e pra completar, um vídeo raro da magda tocando debussy aos 92 anos.

que inspiração!


(...) Note-se que Magda e Guiomar não são apenas glórias pátrias: elas se destacaram como honrosas integrantes do seletíssimo time dos maiores pianistas dos primeiros 50 anos do século 20. Triunfaram em Paris e em Nova York, na Sala Pleyel e no Carnegie Hall. Embasbacaram nomes como Gabriel Fauré e Claude Debussy. Magda foi primeiro prêmio no Conservatório de Paris aos 14 aninhos, em 1907, e com 70 estava no júri do Concurso Chopin de Varsóvia, em 1960, ao lado de Arthur Rubinstein, Nadia Boulanger e Heinrich Neuhaus. De Guiomar, sabemos bem a história. Estudou em São Paulo com Chiafarelli e aos 14 anos superou mais de 200 concorrentes a uma vaga no Conservatório de Paris tocando Schumann e Chopin. Aos 20, estreou em Nova York, com a cidade a seus pés.

Vivemos a era da psicose das notas erradas. A tecnologia da gravação evoluiu a tal ponto que hoje é inadmissível distribuir-se uma gravação comercial com algum erro (pode-se corrigir nota a nota e transformar um pangaré irremediável num campeão de perfeição virtual). São vitórias no mínimo cretinas, fruto de uma indústria que despeja centenas, milhares de robôs perfeitinhos, mas plastificados (Lang Lang é só o exemplo mais vistoso) ou que continuam preocupados em vencer campeonatos de velocidade na execução das obras.

(...) O chileno Claudio Arrau, contemporâneo de Magda e Guiomar, dizia que deixava as corridas para os atletas. Ele preferia tocar piano mesmo. Pois é o que faziam os grandes pianistas românticos do século entre 1850 e 1950. Os críticos e pesquisadores costumam chamar esse período de “pianismo romântico”. Ou seja, são pianistas que privilegiam o gesto, cultivam o cantabile, ocupam-se da partitura como um mapa de navegação mais ou menos vago, que permite praticamente uma “recriação”. Perseguem o brilho e a espontaneidade, em vez da execução precisa seguindo ao pé da letra a partitura. Liszt, o inventor do recital de piano em meados do século 19, dizia que a música escrita era a notação imperfeita de um ideal sonoro abstrato. Para ele, “só um intérprete inspirado pode realizá-la”. Isto é, a partitura é importante, mas não a última palavra.

Notas erradas são apenas “penetras” que só se interessam em participar das grandes festas, como gostava de repetir o russo Anton Rubinstein, um dos maiores virtuoses do século 19 – e não diabos personificados, que desqualificam em definitivo uma execução. O lendário Alfred Cortot errava sem a menor cerimônia. Assumia os erros como acidentes de percurso, e não pecados fatais.

Eles viveram em outro mundo. Privilegiava-se a busca da musicalidade, acariciava-se o som.(...)




Magda Tagliaferro:

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