é. foi ontem!
com o garibaldi e o jayme.
na sala são paulo de todas as quintas.
pra vê-lo ao vivo. o antônio meneses do cello.
de acordo com o ingresso, era pra ser de longe. e ia ser bom do mesmo jeito. lá do balcão superior. a música ia chegar bem aos ouvidos.
mas, o inconformismo sempre me acompanha nessas ocasiões. aliás, não só nelas.
nem me dei o trabalho de subir os quarto lances de escadas.
a platéia central é tão mais próxima...
"- cada um entra por um lado".
e assim foi!
o jayme seguiu esse conselho, mas acabou entrando pelo lado que levava até seu assento original. certo ele. gosta do seguro.
não é o meu caso.
lá da platéia central, eu avisto o garibaldi caminhando como se desfrutasse de um domingo no parque, tranquilo...
havia três opções:
1- a comportada: assentos vazios na segunda metade da platéia, meio longe, mas mesmo assim, na platéia. idéia pouco ousada.
2- a ousada: assentos vazios na terceira fileira, perto do solista e com ótima visão da orquestra.
3- a muito ousada: assentos vazios na primeira fileira, onde a visão da orquestra é comprometida, mas dá pra sentir as gotas de suor do solista espirrando durante a performance.
eu nunca erro nessas coisas. pelo menos até aqui nunca errei. consultei o garibaldi, enquanto conversávamos calmamente em pé, como se fôssemos um dos vips da platéia central. meu olhar "biônico"detectou que os dois assentos da ponta na terceira fileira eram OS NOSSOS. em dado momento, falei: "é agora". partimos para a segunda opção : a "ousada".
havia quatro assentos vazios nessa fileira. sentamos nos 2 da ponta. outros 2 jovens (digo isso porque quase ninguém da minha idade que está ali pagou por aquele ingresso... o lugar de jovem estudante é no balcão superior...rsrs... conforme a velhice vai chegando, desce-se os andares) ocuparam os 2 lugares restantes. "se os donos do lugar chegarem a gente sai". ouvi essa frase, e engoli seco. essa era A MINHA frase também.
ficamos os quatro, tensos, esperando o terceiro sinal tocar e todos o indivíduos de meia idade acomodarem-se em seus assentos caríssimos.
dois minutos depois, os jovens do nosso lado foram obrigados a se levantar e mendigar outros lugares. os donos chegaram!
antes que pudéssemos temer a igualmente dura perda de nossos postos ilegítimos, o concerto começou. que alívio!
começou com uma peça de carlos gomes.
bonito.
acabou logo. e minhas mãos começaram a suar.
veio o anúncio. era ele.
de repente, o mito do cello entrava, ali, a três fileiras de mim! acho que meus globos oculares pularam e por lá ficaram.
tocou o shostakovich, tocou prelúdio de bach.
tocou minha alma. quanta verdade, quanta submissão. um súdito e servo da música. leal ao seu ofício e não ao seu orgulho. a serviço da beleza e da poesia. absolutamente imerso, não se deixou abalar mesmo com as 3 INACREDITÁVEIS vezes em que celulares tocaram! vergonhoso! foi como ir do céu ao inferno em questão de segundos. mas meneses trouxe rapidamente a platéia de volta a atmosfera celestial.
intervalo.
depois, ainda ouvimos o choros n. 6 de villa-lobos (com direito a momentos surreais e algumas belas coincidências) e pra fechar, ele, o rei da orquestração: RAVEL. sim, a valsa, de ravel!
ah, que noite!
saí exasperada. sem nem saber direito o que falar.
estive a 3 fileiras do mito.
e hoje de manhã, meu pai me liga pra contar um "causo":
"ah, filha, eu já gravei muito com esse cellista que você assistiu ontem! gravamos pela primeira vez quando ele tinha 18 anos! era só ele tocar e o som da orquestra inteira mudava. muito talentoso. depois ainda gravamos várias outras vezes! "
ô mundinho, viu?!?
foram 3 fileiras.
o suficiente pra mim ;)