3. lugano - concerto/martha argerich

ela, num tom grave e pastoso: “de onde eres?”

eu, num fio de voz: “brasil”.

sem entender, ela tenta novamente, mas desta vez em italiano: “da dove provenite? da dove provenite?”

com um pouco mais de coragem, respondo: “BRASIL”.

e exibindo o sorriso marltratado pelo tabaco, ela completa em português: “ah, você é do brasil...”

foi esse meu diálogo com martha argerich enquanto esta foto foi tirada.

depois de um dia cheio de agrados visuais na cidade de lugano, eu já esperava que minha alma fosse trasbordar com a música que estava prestes a ouvir.

mas eu não sabia que me afetaria tanto.

andei, tirei fotos, me emocionei com os cenários e vistas da cidade. 

com MUITA antecedência, às 6 da tarde, decidi dar uma olhadela no palco e ver como estava, já que o concerto seria de graça, em praça pública, às 9 da noite. eu TINHA que chegar cedo. não podia me dar o luxo de ficar num lugar ruim.

pois às 6 da tarde, lá está ela, passando o som.

e eu já me deliciei, petrificada.

4 horas depois, o concerto de verdade, que teve como tema TANGOS, em comemoração ao seu aniversário de 70 anos.

não vou descrever os meus sentimentos e reações aqui porque isso não é possivel, mas eles tomaram proporções muito maiores naquele momento do que quando os imaginei.

atingi níveis de adrenalina que poucas vezes conheci.

é único descobrir que toda a expectativa que se tem não atinge o que é real, porque o real supera. 

isso é raro ... e por isso, foi um presente para mim.

abrir minhas férias musicais com um concerto da martha pode ter sido um erro, porque ainda tem muita música por vir, e meu padrão não poderia ter começado mais alto.

no trem de volta pra casa, eu lembrava da martha do concurso chopin 1965, da martha do rach 3 de 1980, da martha do ravel em sol menor, da martha do nelson, da martha das danças argentinas de ginastera, da martha do concerto n. 3 de prokofiev, da martha do concerto de schumann, da martha da partita n. 2 de bach, da martha solista da cerimônia de entrega do prêmio nobel 2009, da lenda - martha argerich...

estava ali. tocando na minha frente, sorrindo do meu lado.

... esse é um sorriso que vai encher meu rosto pra sempre, pra sempre.