começo dos anos 70, esse é um pequeno trecho de uma famosa e longa entrevista feita com a pianista argentina martha argerich ao lado do então esposo, o maestro charles dutoit (que eu assisti reger ao vivo aqui!). eles formaram um belo par musical, mas ficaram casados apenas 5 anos. no entanto, fazem músicas juntos até hoje...
apesar de falar muito, ela não é articulada.
a entrevista é em francês, mas eu me dei o trabalho de traduzir (mal e porcamente) para o português (mesmo sabendo que basicamente ninguém lerá...rs!) só pra provar que mesmo sendo virtuose e super experiente, t-o-d-o-s têm dificuldades em se tratando de técnica de instrumento, seja ele qual for, inclusive ela!
em algum momento, é preciso sentar e ESTUDAR....rs!
algumas instruções sobre a tradução:
tudo o que está em vinho é fala da martha;
tudo o que está em azul é fala do entrevistador;
tudo o que está em verde é fala do dutoit;
:)
"então, é melhor praticar um pouco e estar em forma...mas é muito psicológico também"
"como assim?"
"bom, não funciona estar sempre "colada"ao piano; não quer dizer que será melhor. no meu caso, por exemplo, muitas vezes estava "grudada" no piano e as coisas não funcionavam do jeito que eu queria, e em outro momentos estava menos "grudada"e funcionava. depende de várias coisas, como estudar com calma, relaxada, ou estar histérica... se eu preciso deixar uma peça pronta em 4 dias, não terei tempo de trabalhar nas outras peças. então, numa situação assim é diferente de estudar relaxada.."
"mas não tem como aprimorar ainda mais a sua técnica? um jeito de manter sua técnica que exija um trabalho diário e regular?"
"não se perde a técnica assim, com essa facilidade. ela não some... é também uma questão de sorte...""mas há pianistas que tocam escalas todos os dias...""não, isso eu nunca fiz!""nunca?""não!""então o que você faz?"nunca faço escalas, nunca faço exercícios.....você sabe o que eu faço!""eu sei o que você faz agora, mas não sei o que fazia antes.""mas eu nunca toquei escalas.""então o que você faz?""ah! outras coisas....eu pratico as peças, e só! e quando aparece uma parte que não "sai", eu pratico somente aquele trecho.""então você trabalha sua técnica direto nas peças? ""sim!""você nunca fez exercícios?""não...talvez alguns poucos quando eu tinha 11 anos. não é porque alguém estuda um livro de exercícios que vai conseguir tocar bem quando uma dificuldade "x"aparecer numa peça, simplesmente porque será diferente. por exemplo, o fato de você ter praticado terças não significa que você terá facilidade em tocar o estudo para terças de chopin. você me entende? ou o estudo de oitavas, etc...""mas há o trabalho puramente mecânico, e é disto que estou falando. existem alguns métodos para desconectar os dedos da peça, num problema especificamente físico... como é que se faz isso?""ah! quando se é criança, ou talvez um pouco mais velho? depende..""mas eu estou falando de você.""quando eu era criança? (suspiro) bom, meus dedos não gostavam quando eu fazia essas articulações. quando tinha uns 6 ou 7 anos eu praticava as articulações das peças que eu estava estudando, especificamente.""talvez seja porque você não tem nenhum problema com técnica?""mas é claro que eu sempre tenho problemas com técnica! mas não é... a técnica não é algo "separado" assim. alguém pode até dizer: "eu tenho minha técnica, está aqui, então agora eu posso tocar isso ou aquilo....".... não é assim, e eu não penso assim. acho que cada peça musical tem sua própria dificuldade, que é muito particular. no meu caso é assim. sempre senti isso. existem pessoas que dizem que eu tenho uma técnica maravilhosa, que não tenho dificuldades, mas quando começo a estudar uma peça, é difícil para mim..."
eu li! \o/ rs
ResponderExcluirmuito obrigado por se dar ao trabalho de traduzir e transcrever a entrevista. realmente é um incentivo para quem estuda algum instrumento. quando vemos mestres (ou monstros - no bom sentido) tocando seus instrumentos tão absurdamente bem, como a própria Martha, além de ficarmos maravilhados com tamanha desenvoltura, pensamos "será que eu dia tocarei assim?", e muitas vezes respondemos a nós mesmos negativamente.
ser brilhante exige muito esforço; não se trata apenas de um dom.
beijos, Laura.
bom saber que alguém lê, pq traduzir dá trabalho...rs!!!
Excluir:)
Também li e agradeço seu esforço de traduzir.
ResponderExcluirMas é até difícil acreditar quando ela diz que ao começar estudar uma peça é difícil pra ela... essa gigante do piano???! Desculpa, não consigo imaginar ela “catando milho” no teclado...