24.3.11

a sonata das sonatas

é com M-U-I-T-A alegria que eu me sento agora para redigir este post.
aqueles que me conhecem sabem como eu fico feliz e intensa com umas coisas aparentemente "insignificantes".....

de qualquer maneira, eis o causo:

como postei alguns dias atrás, virei assinante da revista gramophone (fato mencionado neste post).

para o meu mais profundo contentamento, no exemplar de janeiro, encontrei uma matéria de 6 páginas sobre a última sonata de schubert, em si bemol maior, D. 960. 

já abri um sorriso enorme, porque schubert, como já mencionei inúmeras vezes aqui no blog, é um dos meus compositores favoritos, e essa sonata em especial, é uma das minhas obras favoritas do gênero. é SUPER longa, mas é maravilhosa!

bom, no artigo, o autor bryce morrison analisa longamente os melhores intérpretes e as melhores gravações dessa sonata. ele fez um quadro interessante listando cronologicamente as melhores gravações da obra (à direita, são as gravadoras. à esquerda, os intérpretes e o ano da gravação).


note que alguns pianistas chegaram a gravar essa obra 3 VEZES em sua vida. isso é muita coisa!

abrindo um grande parênteses, preciso dizer que essa foi a primeira obra de schubert com a qual entrei em contato sob a interpretação do pianista willhem kempff. fiquei absolutamente encantada e desde então, ouço-a periodicamente. depois, ouvi a interpretação do brendel, da myra hess e de alguns outros pianistas dessa longa lista acima.
mas ainda hoje, a que mais ouço a versão do kempff.
fechado o parêntesis.

durante o artigo, o autor faz uma LONGA análise das interpretações de CADA intérprete, e eu lendo avidamente, ansiosa, querendo saber qual seria a interpretação vencedora, a favorita, o "crème de la crème"....

no último parágrafo, ele diz o seguinte: 

"at this level of achievement, that final choice becomes near-impossible, yet pressed till the pips squeak  i  would have to choose kempff. time and again i have returned over the years to this performance for an ultimate sense of poetry and disclosure. for an ultimate union with schubert's spirit. what schnabel is to beethoven, rubinstein to chopin, surely kempff is to schubert. more than any other pianist he reminds us (...) of the contrivance of spirit against death, the hope to overreach time by FORCE OF CREATION".

olha, depois de ler isso, eu fiquei numa felicidade, mas uma felicidade que eu nem sei descrever. foi um resultado super inesperado, sinceramente.
que sorte, que abençoada fui de ter ouvido primeiro, antes de todas as outras, a "melhor"versão. de fato, nunca encontrei outra melhor.
eu cheguei a dar de presente para o meu primo léo um disco com o brendel tocando essa obra, mas depois de ouvi-la, eu ainda preferi a versão do kempff.

estou ouvindo-a agora.

somente uma obra de infinita poesia e profundidade pode fazer tantos intérpretes de renome mundial se curvarem e se debruçarem repetidas vezes sobre suas notas.

foi a última sonata escrita por schubert, 3 meses antes de sua morte. foi seu último suspiro musical, onde ele concentrou seu desespero, a ápice da beleza de sua criação, confessando musicalmente sua miserável condição de ser humano, vendo a morte acenar-lhe aos 31 anos de idade.

o homem vai e a obra fica. 
kempff também já se foi, e sua arte ficou.

abaixo, o vídeo com sua célebre interpretação do primeiro movimento da sonata.

foi por isso que fiquei feliz. foi por isso! é tão mágico ser positivamente surpreendido pela intuição...

enjoy!

ps: eu já postei essa sonata aqui, mas com o brendel tocando. o kempff tá estreando aqui no blog com esse post :)

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