8.2.12

uma indicação que eu não indico


abri meu exemplar de março da revista gramophone, e ávidamente comecei a ler as matérias, as críticas, as indicações.

folheando e folheando, vi uma propaganda que ocupava uma folha inteira: lançamento do segundo disco da pianista simone dinnerstein, primeiro trabalho assinado pela sony classical. por isso o "fusuê".

na capa, vi que o álbum tinha nome.
raramente discos eruditos são entitulados.
"algo quase sendo dito" é o título, que eu achei pretencioso, mas se merecido, positivamente ousado.
mas sobre essa coisa de merecimento eu ainda não podia opinar.

a frase que me ganhou: "música de bach e schubert".
foi certeiro.
achei a combinação inteligente. 
comprei o disco no amazon.

a pianista americana quer mesmo falar através das melodias de schubert e do contraponto genial de bach.
eu entendo o propósito, que é fazer o piano cantar; e consegue.
mas pra isso, ela se utiliza do rubato que somos ensinados a usar pra tocar chopin, schumann e mais alguns românticos.
não se usa o mesmo rubato em chopin e em schubert, muito menos em bach. 
só clarificando, rubato é a flexibilidade rítmica dentro de um compasso ou frase musical. o rubato não permite que o intérprete altere o valor da nota, mas dá a permissão para o intérprete de "atrasar" ou "adiantar"certas células rítmicas de acordo com seus sentimentos e sua interpretação, é claro, mantendo-se fiel ao compositor o máximo possível.
ninguém suporta rubatos exagerados porque soam forçados e é exatamente isso que me incomoda nessa pianista.

nunca fui avessa às novidades musicais, mas tocar as semínimas da mão esquerda de bach em legato?? me poupe!! isso foi outra coisa que me incomodou...
tocá-las non legato, isto é, sem estarem ligadas é quase uma lei. pode-se agregar o caráter desejado; o intérprete até tem essa autonomia, mas pianista que é pianista não liga as semínimas em bach! 

dei uma pesquisada adicional, e achei um "videoclip"que ela fez para divulgar esse novo disco, tocando o impromptu op. 90 n. 3 de schubert (muitas vezes já mencionado aqui no blog). 
ela toca bem (tirando os rubatos que como já falei, acho exagerados pra se usar tocando schubert) e eu até pensei em postá-lo aqui, mas no fim das contas, não curti tanto o vídeo. pra quem quiser conferir, é só digitar o nome dela e o título do disco em inglês no youtube, exatamente como está na foto que coloquei. 
o vídeo aparecerá.
na realidade, achei a proposta meio forçada...
mas isso é o meu gosto.
há quem goste.

em suma: sua técnica é impecável.
ela tem bom gosto em geral.

mas quer fazer de bach, que é barroquíssimo, um romântico do século XIX.
e quer fazer de schubert, que é um dos pioneiros do romantismo, um companheiro de rachmaninov, que já é neo-romântico, lá de meados do século XX.

inovação sim.
mas cada um no seu período.
barroco é barroco.
romântico é romântico.

bom pra aprender que nem tudo que reluz é ouro...rs!

2 comentários:

  1. Pelo visto ela andou faltando as aulas de história da música pra praticar um pouco mais ao piano, rs. Bach + rubato já é uma combinação estranha, diga lá em excesso...

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  2. hmmm. não conheço a moça nem o álbum.
    mas Bach defnitivamente tem momentos onde não soa barroco, soa dois séculos adiantado

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