os dias atuais tem sido comedidos. vivo entre silêncios e palavras ponderadas. os veríssimos, as brontë e os apóstolos tem sido companhia constante.
ando observando muitos as pessoas, as gentes. coisa curiosa.
voltava ontem de são paulo (novamente, e dessa vez sem apertos no metrô, sem calor sufocante e sem atrasos...). o trajeto até o terminal tietê foi tranquilo. Miraculosamente, pouco ou nenhum trânsito. é o que os paulistanos chamam de "bênção dos fins de feriado", resultando no contra fluxo no trânsito da cidade. Pobre de quem veio a sp. sorte de quem saiu, como eu.
cheguei com certa antecedência, comprei minha passagem (da viação bonna vita), e como me sobraria algum tempo, entrei clandestinamente na sala vip da viação cometa ( sei que esse meu ato não foi o mais honesto possível, mas se mais passageiros como eu repetirem o feito, a Cometa pode alertar-se para o fato de que a inclusão do destino "arthur nogueira" pode ser lucrativa) e por lá fiquei. eu e o veríssimo pai. entretidos e maravilhados. li "o prisioneiro". como gosto dessa escrita, dessas descrições.
uma olhadela no relógio me levou até a plataforma 28, e lá embarquei. ônibus cheio. do meu lado, uma menina de 12 anos. o nome, laura. "seu nome é laura? o meu também..." e ela me respondeu com um sorriso doce e quieto. senti que aquela troca de intimidades com uma estranha infante foi desnecessária segundos após esse breve diálogo. mas, ora! estava dito! voltei aos meus silêncios e ao meu veríssimo, que aguardava-me cheio de frases e palavras lindas.
o passageiro que assentava-se logo a minha frente possuía um celular extravagante, um fone inútil e provavelmente não conhecia as regras sociais dos ambientes públicos. ele ouvia algum forró. não contente com a própria satisfação, decidiu compartilhar com o resto dos passageiros essa experiência auditiva. tirou o fone, e aumentou o volume. o ônibus, outrora silente e pacífico, tornou-se praticamente uma estação de rádio. as pessoas se movimentavam e cochichavam, mas ninguém se pronunciava.
eu estou na minha fase silente. não queria ser a porta-voz dos outros 39 passageiros. esperei 2 minutos. ninguém se moveu. então o temperamento sobrepujou a situação. vesti a capa da voz suave e grave: "senhor, senhor! pode, por gentileza abaixar o volume?" e ele replicou com um irritante tom médio e invasivo: "quê?" antecedida por um profundo suspiro, repeti a sentença, agora na versão imperativa: "abaixe o volume." e ele concordou, silenciando o pobre cantor, que teve seu público diminuido para 1 ouvinte. pobre, pobre!
voltei ao meu veríssimo. depois recorri as minhas audições e felizmente, não compartilhei com o resto dos passageiros.....
cheguei em casa feliz, insipirada e falante. mas obrigatoriamente, esses meus dias precisam ser quietos.
então, silenciei.